Notícia: Risco de hepatites em salões de beleza

Uma em cada dez manicures da cidade de São Paulo tem hepatite

Um estudo inédito feito pela Secretaria da Saúde de São Paulo aponta que uma em cada dez manicures ou pedicuros tem hepatite. De acordo com a pesquisa, essas profissionais não adotam medidas de biossegurança e boas práticas de higiene necessárias para evitar o contágio; além disso, desconhecem os riscos de saúde relacionados à atividade que exercem. A contaminação acontece por meio dos instrumentos usados pelas profissionais (alicates, espátulas, lixas de unhas, palitos de madeira), que elas compartilham com suas clientes. Neste estudo foram avaliadas cem profissionais - metade trabalhava em shopping centers e a outra em salões de beleza localizadas em ruas de bairros da cidade de São Paulo. O trabalho de campo foi feito ao longo dos anos de 2006 e 2007, incluindo coleta de sangue e aplicação de questionário. Dez profissionais apresentaram positividade para hepatite, das quais oito para o vírus do tipo B da doença e outras duas para o tipo C. Durante a pesquisa verificou-se também que apenas 26% das manicures entrevistadas faziam esterilização dos instrumentais com autoclave (desinfecção por meio do vapor a alta pressão e temperatura), método considerado o mais seguro, mas nenhuma sabia utilizar o equipamento adequadamente. Outras 54% utilizavam estufa, mas a grande maioria desconhecia o tempo e a temperatura adequada para esterilizar os materiais. Outros 8% usavam forninho de cozinha, o que é totalmente inadequado, e 2% simplesmente não utilizavam nenhum método de esterilização. Somente 8% faziam a limpeza dos instrumentais antes de esterilizá-los, e mesmo assim de forma inadequada. Das profissionais entrevistadas, 74% afirmaram que sempre lavam as mãos antes e depois de cuidar das mãos e pés das clientes. No entanto, foi constatado que ninguém adotou esse procedimento enquanto a pesquisadora permaneceu no salão observando o atendimento. Das entrevistadas, 20% disseram que usam luvas no trabalho, mas só 5% foram observadas utilizando a proteção. Das cem manicures entrevistadas, 72% desconheciam as formas de transmissão de hepatite B, e 85% não sabiam como se pega hepatite C. As formas de prevenção contra o tipo B eram desconhecidas por 93%, e contra o tipo C, 95%. E 45% das manicures entrevistadas acreditavam não transmitir nenhuma doença a seus clientes. O estudo apontou, ainda, que 74% das manicures não estão imunizadas contra a hepatite B, embora a vacina esteja disponível para esta categoria profissional, gratuitamente, pelo SUS (Sistema Único de Saúde). "O grande problema é que essas profissionais usam o mesmo instrumental para tirar a própria cutícula. Como em geral não adotam os cuidados de biossegurança, é bem provável que estejam se contaminando com a hepatite e transmitindo o vírus também às suas clientes", afirma Andréia Cristine Deneluz Schunck de Oliveira, enfermeira do Instituto Emílio Ribas responsável pela pesquisa. A pesquisadora sugere que as clientes dos salões de beleza procurem observar as condições de higiene e esterilização dos materiais e, se possível, levem seus próprios instrumentais quando forem fazer as unhas dos pés e das mãos.

Reportagem da Folha Online 09/02/2009

Comentários


Este é um problema de saúde pública! A pesquisa revelou uma pequena amostra do que acontece nos salões de beleza. Há necessidade de maiores investigações sobre a prevalência das hepatites B e C entre os profissionais da área da beleza e também da população como um todo. Quantas pessoas devem estar contaminadas e ainda não sabem!! Além disso, as hepatites B e C podem ser transmitidas por via sexual, portanto seus parceiros correm risco de serem infectados. Enquanto os profissionais não tomam consciência da responsabilidade de sua atividade e do risco à saúde que oferecem aos seus clientes, precisamos nos proteger com a utilização de nosso próprio material. Muitos profissionais não receberam nenhum tipo de treinamento para atuação nesta atividade; outros frequentaram cursos de baixa qualidade, onde aprenderam de forma errada a execução dos procedimentos de manicure e pedicuro. Estes profissionais necessitam de treinamento adequado em instituições reconhecidas, que seguem os padrões das boas práticas em salões de beleza e as regras de biossegurança da vigilância sanitária.